Eu andava sempre pela mesma rua. O cheiro de mel e arco-íris se derramava pela grade da casa da esquina e a chuva chorava fininha uma tristeza que não era só dela.

Anoitecia e eu sonhava. Sonhava com a manhã gloriosa que me derretia e se repetia como um espaço no infinito.

O barulho do gelo no copo me fazia acordar enquanto pensamentos dominavam minha já debilitada concentração. Eu nada podia ver além das fotos na estante.

Controlando meus passos eu sempre andava pela mesma rua. A calçada aumentava e diminuía conforme os tropeços do meu tênis rosa. Sempre detestei cor, prefiro ainda uma imensidão gris. Prefiro um nome escrito de giz e alguém que saiba que as palavras são sempre um cadeado.

Pensar antes de falar é bobagem, bom mesmo é não se arrepender do que faz. Ter certeza nem sempre é o bastante quando tudo muda num bater de asas.

O gosto que ainda nem senti já me afeta e te digo que imaginar, às vezes, é melhor do que ter. Feche os olhos e ouça, é o suspiro do meu amanhecer.