Estava tudo errado, mas era justamente por isso que ela estava certa. 

Não passaria daquele dia.

Não passaria daquela hora.

Tudo estava milimétricamente ajustado para aquela partida. Mais uma partida de um coração partido. 

Era sempre assim.

Nada para levar além de decepção. Nada para carregar além de esperança. 

O fim e o início são tão parecidos que se confundem na mesma inquietação. 

Às vezes as palavras são tantas que dói o peito para dizer, por isso ela optou por sair calada. 

A incerteza é a melhor vingança, mas não que ela desejasse assim. Ela desejava tão mais que parecia bobagem permanecer ali.

Com uma boa dose de segurança ela bateu a porta e jogou a chave fora. Nem a primeira, nem a última. Apenas melancolia.

É impossível não pensar em fracasso, mas os sucessos são sempre maiores. 

E ela vai.

Vai sem medo, vai sem arrependimentos.

Ela anda no seu já tão trilhado caminho de más intenções porque as boas estão perdidas entre as moedas da fonte dos desejos.

As lágrimas não são de tristeza. São de uma espécie de alívio, de balanceamento. 

O ar gelado limpa os pulmões e seca os últimos vestígios de uma possível recaída. 

Ela jamais vivia de segundas chances. Repetir? Só as músicas da playlist. A vida era interessante demais para ser desperdiçada duas vezes com o mesmo destino.

O despertador tocou. Ela olhou para o ponteiro marcando 22h40 e seguiu rumo a mais uma história de alguém que coleciona vidas.