Tudo ao mesmo tempo


Ele me observava da última cadeira. Ele me via falar e gesticular freneticamente diante de um assunto. Ele me olhava cuidadosamente para ninguém notar. Ele estava atento a cada movimento meu.

E eu me fazia de indiferente

Indiferença essa adquirida com minha vasta experiência em ser absurdamente ignorada.
Indiferença essa que me seguia por onde quer que eu fosse. Ignorar e ser ignorada era a minha matéria preferida.
Quando ele falava, eu concordava. Quando eu falava, ele não respirava.
Era estranho o modo como ele se comportava na minha presença. Era estranho o modo como ele se comportava na presença de todo mundo. Ele era um cara estranho.
Meio sério, meio engraçado. Meio culto, meio idiota.

Meio a meio. 50% a 50%

Nem frio, nem quente. Mas também não era morno.
Era uma mistura de sim e não.

Ele conseguia me faz rir e chorar ao mesmo tempo. Com ele era sempre assim, tudo ao mesmo tempo.
Sol e chuva. Frio e calor.
E o silêncio...
Ele tinha o silêncio mais alto do mundo. Ele gritava calado.
Assim como me abraçava de olhos fechados.

Ele idealizava as causas mais perdidas possíveis.
Ele desistia das coisas fáceis e sempre queria as difíceis.
Eu me importava e ele não. Eu queria salvar o mundo e ele queria que o mundo o salvasse.

Nós éramos diferentes, mas nós éramos iguais.

Dois corações batendo juntos no mesmo compasso.
Dois caminhos que levam para o mesmo lugar.

E no fim ele era o ideal mais imperfeito que eu poderia ter encontrado.
Ele era o meu pesadelo açucarado.
Meio real, meio imaginação.
Meio documentário, meio ficção.
Tudo ao mesmo tempo!

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